segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Coversas de Elevador



Com a senhora do 11, que roubou minha bola de futebol quando um amigo meu a jogou em sua varanda, um tempo atrás.
-Bom dia
-Oi. Ahamnn!Cof!Cof! - ela responde tossindo.
Afasto um pouco.
Silêncio
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- Ahamnn!Cof!Cof!
É nessas horas que você começa a contar os segundos demorados por andar. Pensa em quantos minutos a pessoa que mora no 15° andar demora pra chegar até sua casa saindo da garagem. Pensa nas pessoas que ficam todas desesperadas quando estão perdendo hora e ficam puxando a porta do elevador que teima em demorar pra fechar.
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Será que no futuro existirão outros métodos mais eficientes de transporte vertical? Encarnado o espírito Calvin de pensar, as pessoas poderiam descer em cápsulas por um sistema de canos, como os que aparecem nos desenhos do Frajola em que esses sistemas mandam cartas e recados em um hotel.
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O elevador para. A porta abre. Ela desce.
-Tchau
-Tchau.
Sorriso amarelo.
Cara fechada.

Com o tiozão dos churrascos de sábado a tarde, que canta “Eu nasci há dez mil anos atrás” do Raul no videokê no último volume (uma das mais horrendas invenções da humanidade, perdendo apenas armas químicas e biológicas).
-Aoba! E ai? - ele começa.
-Tudo bom.
-Viu conta para o seu pai que agora o Corinthians vai mudar de patrocinador.
-Ah ta.
-E então?
-Então o quê?
-Sabe qual é o patrocinador?
-Ah não, qual é?
-A Volkswagen, porque eles estão precisando de alguém para ensinar a fazer gol. Huahuahuahuah.
-Heheheh, mas o meu pai não é corinthiano.
-Ah não?
-Não.
-Seu pai não é o Renato?
-Não, meu pai é o Paulo.
-Ahmnnn, me desculpa então.
-Beleza, não foi nada.
...
O elevador para. A porta abre. A gente desce.
-Tchau
-Falou

Com o síndico
-Tarde
-Tudo bom? - eu respondo.
-Tudo. Viu, a dona Marta do 101 andou reclamando comigo por causa do som alto.
-Tudo bem, heheheh, vou maneirar.
Problema sem solução. Caso encerrado. Silêncio.

Com o cara que é vendedor, do 104.
-Oh, e ai? -ele começa.
-Tudo bom.
-Ah, só esse calor que tá matando hein?
-É verdade.
-Vi na previsão do tempo que vai melhorar só na quinta.
-Nossa...
-É, nessas horas é bom ter um ar-condicionado.
-É...
-E você tem?
-Tenho sim.
-Humm, e nunca deu problema?
-Não, acho que não.
-Ah, mas então toma meu cartão aqui e se der algum problema, algum dia, você pode dar uma ligada que eu faço uma avaliação sem cobrar nada.
-Eu já tenho um deses.
-Não, pode ficar com dois, não tem problema.
-Tá bom.
Lá em casa já devem ter uns cinco desses. Ou o cara ganha comissão com cartões ou está precisando tomar um ginkgo-biloba.

Com a gostosa do 52. Sábado à noite.
-Oi - eu começo.
-Tudo bom?
-Tudo
-Vai sair com as amigas?
-É, eu ia né, só que o pessoal não quer ir comigo...
-Hum, então...
-... justo hoje que ia ter um show do Molejo no pagode do Sergião.
Ia dar uma sambadinha, mas como estava com a camiseta do AC/DC além de ridículo ia ficar pouco convincente
-Ah legal. - eu disse.
-É, então tchau.
-Tchau.
Maldição!

O Falcão e o Morcego



Nunca quis fazer deste blog um instrumento de reclamações. Textos cheios de fagulhas estão por aí aos montes. Mas agora tinha que dar espaço aos meus pensamentos que vão contra o esquema que rege a indústria de cinema americano ultimamente.
Muitos do que penso pode ser lido nesse texto do Judão Blogs , à respeito da reciclagem à exaustão de idéias que deram certo no passado ou em outras mídias, como nos quadrinhos, videogames e até mesmo na TV, resultando muitas vezes em filmes que nem se preocupam em manter alguma fidelidade com o conteúdo original, a não ser o nome, a marca.

Recentemente assisti "O Falcão Maltês" de John Huston e com Humpfrey Bogart (o famoso Rick de Casablanca), tido como o primeiro filme noir da história. Durante o filme é possível perceber na precisão de movimentos e falas, Atuações imponentes e roteiro afiadíssimo. Um filme charmoso e estético. Um estilo que perdeu boa parte da importância no final da década de 60, quando as ruas e o realismo visceral tomou conta das grandes produções de relevância artística do mainstream hollywoodiano, com Martin Scorsese, Brian de Palma, Sam Peckinpah, entre outros. É claro que eu não estou desmerecendo estas produções e estilo de filmar, das quais também sou fã, mas o tom clássico da história do detetive Sam Spade é cada vez mais raro nos dias de hoje.
Num cinema tão explícito e tecnológico, nuances de interpretção acabam perdendo importância.
Repare em alguns atores que ganharam o Oscar de uns anos pra cá, como Adrien Brody e até mesmo Forrest Whitaker, se viram em produções de qualidade duvidosa em suas seguintes atuações. Diferentemente de Daniel Day Lewis que se sempre se preocupou com o conteúdo artístico antes de escolher seus trabalhos. Preocupação que o levou a ganhar pela segunda vez o Oscar de melhor ator por Sangue Negro, filme este, que resgata o estilo que citei anteriormente. Para entender o que digo basta assistir ao filme e acabar impressionado, não com uma reviravolta impressionante ou com efeitos especias, mas com o poder das atuações e pelo talento do diretor.

Mas como já disse uma vez, aqui mesmo nesse blog, também gosto de blockbusters que cumpram bem o dever de entreter e divertir. Mas há também um problema com este tipo de produção.
Recentemente, acabou-se por surgir uma certa divisão meio esquista entre a maioria dos lançamentos do cinema. É mais ou menos assim:
- Produções superviolentas e/ou de terror, destinados à adultos mas que a mulecada acaba assitindo.
- Filmes medianos, geralmente de aventura ou policiais, nos quais os estúdios reduzem suas censuras para 13 anos mas mantém um teor adulto para alcançar o maior número de pessoas possíveis(o que infelizmente acabou acontecendo com Max Payne).
- E desenhos, destinados às crianças, mas que alguns adultos acabam assistindo.
O problema não está no primeiro e no terceiro grupo, porque a mulecada sempre vai acabar assistindo à filmes de terror, nem que escondidos dos pais; e também não há problema nos adultos assitirem os desenhos, já que os mesmos estão sendo feitos, cada vez mais, com uma qualidade singular.
Mas o terror e os desenhos são extremos, o problema se encontra no grupo do meio.
Vou mecher no vespeiro e tomar como exemplo o "Cavaleiro das Trevas". O filme é bom? Inegavelmente.
E sem sobra de dúvidas é um filme adulto, como o próprio tom do filme, cru e brutal, nos dá a entender. Só que quando o assisti pela segunda vez, fiquei com a sensação que o filme foi feito com o pé no freio. Essa suavizada em cenas mais pesadas e violentas, que um poucos mais fortes poderiam ter aumentado a carga dramática e realismo do filme, me passa a impressão que a liberdade criativa do diretor foi podada para que o filme se adequasse a classificação "indicativa" que os produtores desejavam que o mesmo alcançace. Dizem que o filme tem chances na corrida pelo Oscar, mas provavelmente o pessoal de lá vai levar em conta o que eu vos digo e quem sabe premiará Heath Ledger como ator coadjuvante. Clássicos do cinema não se preocupam com nenhum tipo de censura.

Outro problema que envolve esse meio, é a falta dos filmes matinê que existiam nos anos 80, até a metados dos 90 e que hoje são classicos de Sessão da Tarde. Filmes que não apelavam para efeitos especias como atrativo e que tinham histórias BOAS e voltadas para a mulecada. Ou você acha que o filme bomba do Dragon Ball que vem por aí será lembrado como Goonies é lembrado até hoje pelas pessoas que o assitiram na infância e que guardam tanto carinho pelo filme. Os filmes pop de hoje são descartáveis.

Mas em outra coisa me paira uma dúvida.
Há uma certa incorência nos padrões de censura nos dias de hoje em relação com os de alguns anos atrás. Nunca foram lançados nos grandes cinemas de circuito, filmes com um teor tão alto de violência, que estão presentes nos Jogos Mortais, Albergues e até no Rambo IV. Um grau de violência impensável uns 20 anos atrás. Para perceber isso é só assistir "O Massacre da Serra Elétrica" de 74, que na época fez um escândalo imenso mas que se apoia mais no terror psicológico do que na violência explícita para dar medo, o que faz muito bem. Mas o que quero dizer é que enquanto os orgãos de censura deixam que carniceiros passem tranquilamente dando-lhes uma censura 18 anos e pronto, não deixam que uma gota de sangue seja mostrada em filme de censura 13 anos. Quem já assistiu a trilogia do arqueólogo Indiana Jones sabe que pessoas morrem à torto-direito com um sanguinho aqui e alí, cabeças explodem e corações são arrancados com a mão, mas que na epóca ganharam censura 13 anos. Numa época em que a violência que eu citei anteriormente não existia. Entenderam a incoêrencia? O que eu penso é que um rapaz de 13, 14 anos tem tranquilamente maturidade para assitir os filmes de Indy e reprovo a violência gratuita e excessiva de alguns filmes lançados ultimamente.

Por isso tudo caros leitores façam uma forcinha e não alguem qualquer porcaria que estiver numa prateleira de lançamentos e dê uma pesquisada por aí, porque a qualidade não some com o tempo. Qualquer dúvida pergunte ao balconista!





-E aí? O quê você achou?
-Ah meu, eu curti - respondeu o Edu - só não gostei que você falou mal do Batman, que é um puta filme.
-Hehehehehe, eu não falei mal meu, eu só disse que podia ser melhor.
-Ah tá, nada a ver né. Mas cara, eu acho que eu sei porque isso de os caras da censura não deixarem que tenha sangue nos filme de censura 13 anos.
-Por que?
-Porque os caras vêem que os filmes de terror tão exagerando e se eles liberarem sangue para os outros, vai acabar dando merda.
-Pode ser.
-E otra coisa, esse conselho que você deu, de consultar o balconista, às vezes pode não dar certo, porque tem cada cara tapado por aí que não sabe nem quem é o Quentin Tarantino.
-Melhor do que não saber quem é o Martin Scorsese!
-E porquê? O Tarantino não é tão foda quanto o Scorsese? - disse o Edu indignado.
-Eu curto o Tarantino, mas o Scorsese é um artista, cara.
-O Scorsese é um ótimo diretor, mas nós estamos falando de quem é o mais foda.
-Nem vem, o mais foda é o David Lynch - Ana veio correndo do fundo da loja para retrucar.
-O David Lynch só fez Veludo Azul - o Edu diz para atiçar a Ana.
-E o Tarantino só fez Cães de Aluguel!
-E Pulp Fiction não foi nada né?
-Oh pessoal, vamos dar um tempo aí, vai - eles sempre tem que discutir...
-Já parei, já parei. Hey Johnny, o que você tá escrevendo aí?
-Um post pro meu blog.
-Você nunca falou que tinha um blog. Posso ler?
-Pode.

Ela lê.

-E aí? - eu pergunto.
-Não gostei que você falou mal do Batman...
E o Edu ri da minha cara.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Quando A Música Faz Muita Diferença - 3 - Os Embalos de Sábado à Noite


Para quem nunca assistiu ao filme, tudo se trata de uma caricatura dos anos 70, com as disco clubs e as dancinhas com o dedo levantado para cima. Mas estes se enganam.
Quando assisti ao filme achei estranho o seu clima bem depressivo, apesar de toda a pompa das cenas de dança que o deixaram famoso. E o mais engraçado é que não há uma dramaticidade exagerada no filme que mostra problemas totalmente plausíveis e cotidianos da juventude. Tudo bem que uma hora ou outra o filme desanda para um lado meio “dramalhão”, mas não chega a parecer uma novela e acaba de um jeito meio esquisito: nem feliz nem triste, apático.
Muitos podem até acabar achando um filme meio brega, mas para quem gosta de uma boa trilha sonora, o filme é um prato cheio. Com os Bee Gees no auge, a cena que abre o filme onde Tony Manero (John Travolta) anda todo “estiloso” ao som de Stayin' Alive, imortalizou a música, que virou hino dessa época.
E uma curiosidade, o tal do passo que virou clichê, do dedo para o alto, é executado várias vezes no filme, mas nenhuma com Stayin' Alive de fundo.

Vídeo: