sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Quando A Música Faz Muita Diferença - 3 - Os Embalos de Sábado à Noite


Para quem nunca assistiu ao filme, tudo se trata de uma caricatura dos anos 70, com as disco clubs e as dancinhas com o dedo levantado para cima. Mas estes se enganam.
Quando assisti ao filme achei estranho o seu clima bem depressivo, apesar de toda a pompa das cenas de dança que o deixaram famoso. E o mais engraçado é que não há uma dramaticidade exagerada no filme que mostra problemas totalmente plausíveis e cotidianos da juventude. Tudo bem que uma hora ou outra o filme desanda para um lado meio “dramalhão”, mas não chega a parecer uma novela e acaba de um jeito meio esquisito: nem feliz nem triste, apático.
Muitos podem até acabar achando um filme meio brega, mas para quem gosta de uma boa trilha sonora, o filme é um prato cheio. Com os Bee Gees no auge, a cena que abre o filme onde Tony Manero (John Travolta) anda todo “estiloso” ao som de Stayin' Alive, imortalizou a música, que virou hino dessa época.
E uma curiosidade, o tal do passo que virou clichê, do dedo para o alto, é executado várias vezes no filme, mas nenhuma com Stayin' Alive de fundo.

Vídeo:

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Cult



Você já deve ter ouvido falar. Leu em algum lugar ou viu em alguma prateleira por aí. Mas como toda definição, o “cult” não é um consenso unânime.
Tem gente que diz que filme cult é um filme alternativo, fora de circuito. Acabam classificando filmes não hollywoodianos automaticamente como cult. Tem gente ainda, que diz que o cult é um filme inteligente, com histórias não usuais, que ganha áurea de intelectual.
Durante minhas andanças cinematográficas, assistindo e lendo sobre filmes, um certo grupo de filmes sempre me chamou a atenção. Filmes que não tinham a pretensão de serem consagrados pela critica, que não tinham a intenção, na maioria das vezes, de arrecadar milhões e milhões de dólares. E é dessa despreocupação com esses aspectos que fazem gerar a grande indústria do cinema, que nascem pedras brutas que se tornam adoradas por um pequeno, mas fiel grupo de pessoas, que as vêem como pequenas jóias.

Isso é um filme cult. Filmes, que encontram o repudio dos estudiosos do cinema e o desprezo da massa, mas que encontram redenção nas pessoas que se agradam com uma idéia diferente.
Cult não é um gênero como comédia, aventura ou terror, é um adjetivo que se ganha, na maioria das vezes com o tempo. Ninguém faz um filme para que ele se torne cult. E se faz pode ter certeza que ele nunca será tão bom quanto aquele, que se tornou por “acidente”. Mesmo porque, a maioria dos filmes que foram agraciados com esse adjetivo, foram feitos por alguém que julgou ter tido uma boa idéia e a transformou em filme por diversão, um filme que ele mesmo queria assistir, e por crer que em algum lugar, alguém ia se divertir também.

Mas para entender e saber que filmes são, (porque o cult tem uma “cara”) só conhecendo alguns.
The Rocky Horror Picture Show é quase uma autodefinição do cult. Filmado como uma homenagem aos filmes B e de ficção dos anos 50 e 60, começa com a história de um cientista psicopata, travesti e de outro planeta, que “seqüestra” um casal que bate a porta de sua mansão quando o carro em que viajavam, para a lua-de-mel, fura o pneu numa noite chuvosa. Tudo é contado, ainda por cima, como um musical de baixo orçamento.
O filme foi um fracasso de bilheteria, mas começou a ganhar fama no boca-a-boca das sessões de meia-noite em Nova Iorque. Logo, uma legião de fãs começou a se encontrar todos os finais de semana, fantasiados como os personagens e cantando todos as músicas do filme em coro. Depois vieram peças de teatro, convenções, re-estréias, e produtos do filme, que se mantém firme até hoje em popularidade, tanto que haverá uma refilmagem do filme pela Fox e MTV para o ano que vem. E tudo isso para um filme que muita gente nunca ouviu falar.
Outro filme que se tornou consagrado, principalmente no meio dos roqueiros, foi This Is Spinal Tap.
Spinal Tap é o nome da banda fictícia, que ganha um documentário sobre o lançamento de seu novo cd, depois de um tempo de esquecimento, querendo voltar ao topo. E assim, tudo se torna um retrato “nem tão exagerado” de uma banda de rock em decadência, uma ironia de uma hora e meia para mostrar os roqueiros em situações ridículas e embaraçosas. Tudo baseado em histórias curiosas e toscas que permeiam o estilo musical.

Além da comédia, outro gênero comum, senão o mais, entre os filmes cultuados é o terror. É aqui que os diretores podem fazer o que bem entenderem, doa quem doer. Então dá-lhe muito sangue, tripas, sexo, escatologia, monstros, zumbis, aberrações e as mais incontáveis atrocidades para contentar os sedentos fãs do bizarro.
E nessas qualidades encaixa-se perfeitamente a pérola máxima do trash, Toxic Avenger. Mas nesse caso, o filme já foi pensado para ser esculhambado e a comédia “involuntária” vem dos absurdos propostos pelo enredo e pelo jeito charmoso de ser mal feito do filme. A Troma, produtora do filme, se tornou especialista no gênero, onde quanto mais tosco melhor e o vingador tóxico seu ícone, como o super-herói do underground.
Outros filmes que se apóiam nas bases do trash, mas nem tanto, são os da série Evil Dead. Conhecida aqui no Brasil como Uma Noite Alucinante, um título deveras engraçado e “muito literal”. O primeiro filme, do agora famoso diretor da trilogia do Homem Aranha, Sam Raimi, foi muito aclamado no meio do terror, recebendo muitos elogios do mestre do gênero Stephen King (apoio esse, responsável pelo seu sucesso) e ganhou duas continuações mais divertidas que o pesado primeiro filme. Tudo bem que não são nenhuma comédia de sessão da tarde e zumbis sanguinolentos explodem na tela, mas é impossível não se divertir, mesmo no clima tenso, com Ash, o herói da serie, perseguindo sua própria mão que ganha vida depois de ser arrancada pelo próprio. A segunda parte, além dessa e outras pitadas de humor negro, conta com o carisma e com as caretas do ator Bruce Campbell (que se tornou um fenômeno cult ele próprio), mais confortável com o papel do que no primeiro, sendo assim, a parte mais divertida e aplaudida pelos fãs.

Mas nem só de “porcarias” vive o cult. Laranja Mecânica, Blade Runner e Monty Phyton - Em Busca do Cálice Sagrado são clássicos consagrados, mas não deixam de fazer parte do meandro do cult. O filme do famoso grupo inglês Monty Phyton rivaliza, por muitos, com Quanto Mais Quente Melhor de Gene Wilder e Dr. Fantástico de Stanley Kubrick, como a melhor comédia de todos os tempos, além de ser um dos melhores filmes ingleses da história. Lista esta, em que Laranja Mecânica, também de Stanley Kubrick, estaria. O filme teve a exibição proibida na Inglaterra durante anos e causou muita polêmica no mundo inteiro, mas foi uma das obras mais influentes do cinema. Seus fãs estão de montes por ai e fazem questão de mostrar o amor ao filme de Stanley Kubrick em músicas, pinturas, camisetas e tatuagens. Já o filme de Ridley Scott foi um caso a parte. Na época de seu lançamento foi recebido a pedradas pelos críticos e o publico não entendeu, mas encontrou seu espaço entre os fãs de ficção cientifica e só depois de anos, a alta roda do cinema viu a cagada que fez e re-classificou o filme como obra de arte.
Vou deixar aqui uma lista do que considero os filmes cult mais legais que já assisti e uma pequena explicação para os que não foram citados anteriormente, por se tratarem de filmes mais desconhecidos.
Alguém pode sentir falta de grandes cult como por exemplo Plano 9 no Espaço Sideral, considerado o pior filme de todos os tempos, mas ele não está na lista porque já o assisti (ele foi lançado aqui no Brasil em DVD) e achei que ele é bem ruim. Mesmo.
Então, clique aqui para ver a lista da Entertainment Weekly Magazine e aqui para ver a do Boston Globe em que os filmes constam em ordem de “cultuação”.


RST Vídeo Recomenda: Filmes Cult
- Rocky Horror Picture Show
- Uma Noite Alucinante 2 (Evil Dead II)
- This is Spinal Tap
- Vingador Tóxico (Toxic Avenger)

- Fervura Máxima (Hard Boiled)
Não se assuste pelo nome, não se trata de um suspense com a Ana Maria Braga. O filme é a obra máxima do diretor John Woo e foi responsável pela sua ida à terra do Tio Sam. Nele, o diretor refina sua arte da violência estilizada e de conflitos morais das personagens ao máximo criando um filme tão cultuado quanto copiado. Tudo isso numa história simples, que nas mãos de outro poderia ter se tornado um policial qualquer.

- O Balconista (Clerks)
Primeiro filme do nerd master Kevin Smith. Filmado em preto e branco e com míseros 30 mil dólares ganhos com ajuda de amigos e com a venda da coleção de gibis de Smith, o filme se passa quase inteiramente na loja de conveniência onde trabalha Dante, um pacato e azarado balconista, que passa o dia conversando com o amigo Randall, que trocam idéias sobre a vida e cultura pop. Parece chato, mas não é, se você é fã de um roteiro bem escrito.

(Estes dois também entraram na lista de recomendações de filmes dos anos 90, então não preciso dizer que gosto muito de ambos).

- Guerreiros da Noite (The Warriors)
O filme causo um grande rebuliço antes mesmo do lançamento por tratar de um tema delicado. A guerra entre gangues. Mas o filme, que poderia ter se tornado muito violento, acabou pegando um caminho mais de aventura, onde acompanhamos a gangue dos Warriors fugindo para casa, depois de serem acusados injustamente de matar o líder da poderosa gangue dos Riffs. Tudo ao som de uma ótima trilha oitentista.

- Eles Vivem (They Live)
Filme do famoso diretor John Carpenter, responsável pelo clássico do terror Halloween e pelo filme matinê Aventureiros do Bairro Proibido, conta a historia de Joe Nada, andarilho que descobre óculos de sol capazes de ver uma terrível ameaça que olhos comuns não captam. Então decide fazer justiça com as próprias mãos (aquele velho clichê de sempre...).
O filme ainda tem um dos trailers mais legais que eu já vi.

- Ensina-me a viver (Harold and Maude)
É difícil explicar aqui o espírito bem incomum deste filme. Com trilha sonora inteira composta pelo cantor Cat Stevens, acompanhamos Harold, um garoto com tendências suicidas que encontra numa simpática e politicamente incorreta senhora, a graça da vida. Humor negro e drama se misturam num dos mais improváveis e divertidos romances já feitos no cinema.

- Como Enlouquecer seu Chefe (Office Space)
Uma grande crítica à vida ridícula e monótona nos escritórios de grandes empresas. Tudo começa quando Peter Gibbons, mais um desses funcionários que trabalham em cubículos, sofre uma hipnose para ter um momento de total e completo relaxamento em relação aos problemas do trabalho. Só que ele não acorda da hipnose e vai trabalhar assim mesmo...

- Menção Honrosa: Goonies
Sim! O filme da molecada que vai atrás do tesouro de Willie Caolho é cult até o talo. Mas como Laranja Mecânica, Blade Runner e Monty Phyton - Em Busca do Cálice Sagrado, é um filme au concour, levando em conta que fiz a lista privilegiando filmes não tão famosos.