Prólogo
-Fala seu Antenor!
-Como vai filho, tudo bom?
-Tudo. Vai alugar o que hoje?
-Não sei ainda, vou dar uma olhada.
Seu Antenor é um senhor muito gente fina, cliente aqui da locadora, que trabalha num escritório aqui por perto. Via no Globo Esporte, no meu horário de almoço, se o “Parmera” tinha perdido para poder zoar com ele quando ele passasse aqui em frente da locadora no seu caminho para casa.
-O que aconteceu com as fita?
-Agora, por ordens externas, agente só está trabalhando com DVD.
-Putz, mas num tem mais nada aí?
-Não, e provavelmente eles jogaram todos os VHS fora.
Então seu Antenor, triste, abaixou a cabeça e caminhou para fora da loja.
-Aonde o senhor vai?
-Acho que vou jogar bocha com os meus amigos.
Isso foi há uns meses atrás.
Fim do prólogo.
-Boa tarde, vocês tem o filme do Ben-Hur? – disse-me uma senhora.
-Sim, vou pegá-lo.
Então fui atrás dele
-Acho até que devia comprar este filme – ela disse.
-Você gosta muito dele?
-Não, é que eu passo ele na escola onde eu leciono. Amanhã vou levá-lo para minha turma da sexta-série.
Nossa. A tia vai passar o filme para a molecada da sexta-série. Como é ruim isso que ela está fazendo tanto para o filme como para as crianças, que são OBRIGADAS (odeio essa palavra) a assistir os filmes e documentários invariavelmente chatos que passam na escola. Isto faz com que as crianças associem esses filmes à chatice que é a escola e que estigmatizem-os a ruindades atávicas, quando elas não estão nem um pouco interessadas em apreciar um clássico como Ben–Hur, Lawrence da Arábia ou O Incrível Exército de Brancaleone. Não é qualquer dia, mesmo para um cinéfilo que se tem paciência para assistir um filme desses.
Esses dias vi na MTV, a Marina Person, numa ponta em um programa que não lembro bem qual era, recomendando a Festa de Babette como filme clássico. Nada contra o filme dinamarquês, mesmo porque eu nunca o assisti, mas sei que é bem conceituado, o problema é a aproximação. Na hora de comentar sobre o filme ela falou pouco sobre sua importância e só mostrou uma cena do filme em que uma moça serve o jantar para seus convidados. Para quem está assistindo e nunca ouviu falar do filme, aquilo não se passa de um filme sem graça e que a recomendação é uma baboseira “intelectualóide”. O que muitas vezes é. O dito entendido de cinema vai em um programa de TV e recomenda um filme europeu, fora de circuito só para se dizer culto.
É redundante e sem classe recomendar filmes como Poderoso Chefão? Eu acho que não.
-Não que eu queira me intrometer, mas a senhora não acha que Ben-Hur é um pouco parado para a criançada?
-Ah, mas as crianças devem aprender desde cedo a assistir clássicos.
-Eu entendo, mas é difícil que uma criança adquira este gosto assim, de uma hora para outra. A senhora não prefere levar Gladiador, e para quem se interessar, a senhora pode recomendar Ben-Hur ou Spartacus.
-Vou pensar, onde está o filme?
-Alí, naquela estante.
Um cara estava no balcão.
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